quinta-feira, 2 de junho de 2016

Casos Filosóficos

Design de Elmo Rosa


Casos Filosóficos
Autor: Martin Cohen
Designer: Elmo Rosa
Editora: Civilização Brasileira
Ilustrações: Raul Gonzales 
Fonte: desenhada para o projeto


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Sócrates foi realmente a figura santificada que se tornou para a filosofia? Por que é duvidoso que Descartes tenha de fato afirmado 'Penso, logo existo'? E o que Sartre tinha contra garçons, afinal? A história da filosofia é cheia de grandes casos - muitos deles invenções, interpretações equivocadas, mentiras e lorotas. Em Casos Filosóficos, lançado pela Civilização Brasileira em 2012, Martin Cohen desconstrói e relaciona vários grandes casos da história da filosofia. Abaixo, uma entrevista com Elmo Rosa, designer do capa e criador do projeto gráfico da edição.


Como foi o processo criativo para essa capa? Como surgiu a ideia de associar com as revistas de terror da EC Comics?Elmo Rosa: O livro consiste de uma coletânea de fatos curiosos sobre as vidas pessoais de alguns dos mais proeminentes filósofos da história. Ele procura demonstrar que esses indivíduos incríveis, em boa parte do
tempo, eram também pessoas comuns, como nós, com suas trivialidades e fragilidades. A editora demandou que o design da capa deste livro caminhasse no sentido oposto do que, normalmente, espera-se de um livro de filosofia. Que conferíssemos a ela uma aparência que a afastasse de qualquer associação com o aspecto mais árido, erudito, característico desse tipo de literatura. Indo ainda além, ela solicitou explicitamente que essa capa tivesse um viés bastante pop.


ER: A capa original estrangeira, da editora Wiley-Blackwell, já fazia essa associação que você mencionou, com capas de revistas em quadrinhos de terror antigas. Decidi manter esse conceito no leiaute da capa da
edição brasileira. Afinal, adotar uma identidade visual similar à de uma capa de revista em quadrinhos, de antemão, já resolveria a demanda da editora por uma orientação pop para a capa do livro. Além disso,
como o livro compunha-se de uma seleção de diversos textos, aquelas janelas circulares com legendas, características desse tipo de capa de revista em quadrinhos seriam providenciais para que eu pudesse
destacar mais de uma dessas tramas, além do conto que eu selecionasse para ilustrar a área maior da capa.
Entretanto, como disse, os textos de modo algum eram relacionados ao universo do terror. Portanto, colhi desse tipo de linguagem visual apenas aquilo que acrescentava algo ao leiaute.


ER: Com isso, uma outra parte dos elementos gráficos que utilizei, busquei nas capas das revistas em quadrinhos da Marvel Comics dos anos 1970 e 1980, época em que meu pai costumava colecioná-las. Havia pilhas delas em casa, que acabaram por fazer parte do meu imaginário visual desde a infância. Na época, as cabeças dos super-heróis que apareceriam na história figuravam meio que 'amontoadas' no canto superior esquerdo das capas das revistas. Jamais poderia deixar passar a oportunidade de acrescentá-las ao leiaute. Onde nas capas dos quadrinhos da Marvel, ficava o selo do Comics Code Authority, eu posicionei o logotipo da editora. Também mantive no topo da capa a grande barra negra aonde originalmente vinha escrito 'Marvel Comics'. Para minha sorte, as letras iniciais do nome do autor, 'Martin Cohen', eram providencialmente as mesmas da editora de quadrinhos americana.


ER: No mais, procurei povoar a capa com os mesmos tipos de chamadas que constavam nas capas dos quadrinhos da Marvel. Fiz, inclusive, um grande splash para informar o crédito do artista das ilustrações do
miolo. Decidi também utilizar apenas a combinação de duas cores – preto e laranja, e de ampliar as retículas, criando assim falsos e intencionais erros de registro, tudo sobre cartão reciclado. Isso
reforçaria o enfoque mais acessível que, conforme mencionei anteriormente, a editora pretendia para o design. Além de deixar a capa ligeiramente com jeito de fanzine.


Como foi o processo de criação das ilustrações, e a definição do visual de cada "personagem"?
Não sou um ilustrador. Mas gostava, na adolescência, de desenhar personagens, no estilo das histórias em quadrinhos de super-heróis. Isso possibilitou-me confeccionar as ilustrações para a capa deste livro. Não houve necessariamente um processo de criação das ilustrações ou uma definição visual de cada personagem. Apenas imprimia imagens dos filósofos da internet e tentava desenhá-las nesse estilo. Fazia os desenhos primeiramente a grafite e, posteriormente, com o auxílio de uma mesa de luz, finalizava a nanquim com pincéis. Achei o conto que tinha Rousseau como protagonista o mais interessante visualmente. Pelo que lembro, ele furtava um colar, e colocava a culpa do roubo em uma governanta. Passou, a partir de então, a ter pesadelos com a serviçal vindo vingar-se dele. Foi o texto que escolhi para servir de base à ilustração principal da capa.


O código de barras da capa é o mesmo da contracapa? Houve alguma dificuldade técnica em relação a isso?
Sim, é o mesmo. Uma vez que ele estaria repetido na quarta capa, no tamanho padrão da editora, não me preocupei se ele funcionaria ou não como um código de barras real. Hoje, talvez tivesse feito o teste e,em caso de sucesso, tentasse convencer o editor a eliminá-lo da quarta capa.


Qual a fonte utilizada? Ela foi criada para esse livro?
O título é uma caligrafia que confeccionei especificamente para esta capa. O restante são fontes de que eu já dispunha, e que assemelhavam-se com as utilizadas nas revistas em quadrinhos da Marvel Comics (mas nada de Comic Sans!).


Elmo Rosa é um designer editorial especializado em confecção de livros, e ama esse ofício.

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