quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Jurassic Park

Design de Pedro Inoue


Jurassic Park
Autor: Michael Crichton
Designer: Pedro Inoue (capa), Design Editorial (miolo)
Editora: Aleph
Fonte: exclusiva

Além de ser um clássico moderno da literatura de ficção científica, o livro Jurassic Park tem também uma das capas mais icônicas de todos os tempos, a marca do esqueleto de tiranossauro criada pelo designer Chip Kidd (do qual falamos aqui), tornada onipresente nas adaptações para o cinema da obra de Michael Crichton. Repensar uma obra tão icônica foi o desafio do designer Pedro Inoue, com a edição especial lançada esse ano pela editora Aleph.


Como você se tornou designer de livros?
Pedro Inoue: Por acaso. Eu conheci o Adriano Piazzi em 2012 e ele me chamou para criar uma série de capas para o Philip K. Dick e a edição de 50 anos de Laranja Mecânica do Burgess. Antes disso tive algumas oportunidades de criar capas para alguns autores que admiro muito, como Noam Chomsky e Frantz Fanon, porém nunca quis seguir uma ‘carreira’ como designer de livros.
Eu tenho uma maneira de trabalhar muito peculiar e para fazer um bom trabalho é preciso ter um certo grau de admiração com os autores. Fazer capas é um trabalho bem difícil. É uma peça única que tem ser balanceada artisticamente e comercialmente. Hoje em dia, clientes com um pouco mais de visão, deixam o designer ter mais liberdade para criar, abafando o que o marketing dita. Isso abre diversos caminhos novos, criando peças mais ousadas e inovadoras.

Página de abertura
O que você acredita que faz de uma capa uma boa capa?
PI: Atualmente, contexto. Uma boa ideia é sempre bem vinda, porém acho aquela capa ‘sacada’ muito publicitária, muito rasa. Isso funciona para alguns casos, mas atualmente, criar processos que lidam com o contexto e universo do livro são muito mais interessantes. Uma leitura do universo que engloba a complexidade da história cria resultados muito mais ricos. A formula que a gente vê em diversos casos, geralmente ditada pelo comercial, esta muito desgastada.

Divisórias
No caso de Jurassic Park, sendo uma marca tão icônica e já tão explorada visualmente, como foi o desafio de buscar uma nova abordagem?
PI: Foi fácil e difícil. Criar algo em cima de um universo tão rico é muito divertido e leve. Porém, quando se procura inovar, qualquer expansão precisa ser feita de maneira delicada.
O esqueleto criado por Chip Kidd para o livro já tinha uma direção muito bem resolvida. O filme aprofundou essa direção e conceito, fazendo do universo gráfico algo super delineado.
O que tinha em mente era modernizar esse universo, utilizando uma tipografia nova e uma ilustração que partisse desse universo porém expandindo ele. Tendo dito isso, manter o esqueleto do T-rex foi praticamente inevitável. Tentei procurar outros caminhos, mas nesse caso a releitura foi muito mais direta e perfeita para esse caso.

Esboços para a capa
Como se deu a escolha da fonte utilizada na capa?
PI: A fonte da capa é exclusiva e foi desenhada para o projeto. Para sua finalização, quis manter referências bem sutis a tipografia do logo do filme.
Tipografia para mim é uma das características mais importantes do meu trabalho (talvez seja a maior). Eu trabalhei muito tempo na Barnbrook design em Londres, onde aprendi muito do que sei sobre fontes e tipos. Acredito que usar fontes existentes para certos trabalhos, principalmente fontes de título, é algo que se deve evitar. Um alfabeto foi criado a partir de uma ideia, de um espírito - no trabalho ideal, você cria um alfabeto novo para uma interpretação nova. Uma voz única.
Pense que seria igual a montar um quarteto e você usar músicos que não falam a mesma língua entre si, ou que não combinam em estilos musicais. Se você criar os músicos do zero, o trabalho terá sua própria voz, sonoridade e espírito.

Estudos da fonte
O que você diria que faz essa capa funcionar, que faz ela ser o que é?
PI:Capas acabam sendo sempre um processo em grupo. Existem tantas pessoas que colaboram e trabalham para fazer do resultado final o melhor possível que muitas vezes não recebem seu devido crédito.
No processo, tudo conta. A liberdade (e confiança) com qual a Aleph me dá na criação. O investimento no acabamento, nos pequenos detalhes. O posicionamento do lançamento, o timing, as mídias sociais. Tudo isso conta e algumas vezes fica difícil de quantificar.


PI: Acho importante falar sobre minha primeira conversa com a Aleph, quando concordamos que as capas devem ser clássicas. Clássicos no sentido que historias como Star Wars, Alien e Jurassic Park são, hoje, os novos clássicos.
Suas capas devem estar a altura do que estas histórias e narrativas representam para nós, que crescemos dentro desses universos. Eles merecem ser tratadas de igual para igual com Nabokov, Carver e Hemingway.
É uma nova era e só não vê quem não quer (ou quem está velho ;-)


Pedro Inoue, 38, é artista e designer gráfico. Já expôs seu trabalho no Japão, Coréia, Inglaterra e França. Comercialmente já colaborou com David Bowie, Damien Hirst & Ryuichi Sakamoto. É diretor criativo da revista canadense Adbusters desde 2010. Mora e trabalha em São Paulo, Brasil.

Um comentário:

Jessica disse...

Excelente artigo, adorei a entrevista! Sou apaixonada pela obra do Michael Crichton, principalmente por essa edição da Aleph. Parabéns ao incrível designer, Pedro Inoue, pelo trabalho realizado. Recentemente estou criando uma série de vídeos sobre o universo de Jurassic Park e World no meu canal no YouTube, não poderia deixar de indicar esse maravilhoso blog.
Abraços e muito sucesso!

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