sexta-feira, 18 de março de 2011

Museu do Romance da Eterna

Design e projeto gráfico de Elaine Ramos


Museu do Romance da Eterna
Autor: Macedonio Fernández
Designer: Elaine Ramos
Editora: Cosac Naify
Fontes: Akkurat e Proforma

Museu do Romance da Eterna foi escrito e reescrito ao longo de 48 anos por seu autor, Macedonio Fernández, e publicado somente após sua morte. O livro é dividido em duas partes: uma série de prólogos e dedicatórias para um romance que nunca chega, e o romance em si, formando um mosaico de fragmentos metalinguísticos. O charmoso projeto gráfico de Elaine Ramos ressalta esse aspecto de "obra inacabada": o livro é pequeno, impresso em capa dura, com um papel rústico que desbota com o tempo e não tem a lombada refilada, dando um aspecto irregular de pilha de papéis. As brincadeiras metalínguisticas começam já na capa, onde o autor descorre sobre os leitores de capa:

"Ccomo a circulação de capas e títulos se deve às vitrines, bancas de jornais e anúncios, o Leitor de Capa, Leitor de Porta, Leitor Mínimo, ou Leitor Não Conseguido, tropeçará finalmente aqui com o autor que o levou em consideração, com o autor da capa-livro, dos Títulos Obras.
E considero que O leitor alcançado deve ser o título do Título que estamos apresentando de nosso romance, pois um primeiro fato já aconteceu em sua capa, onde o Leitor Mínimo é completamente alcançado pela única coisa que mesquinhamente os livreiros leram: a capa, a única coisa que é editada na maioria dos livros.
Calcula-se cem leitores de capa para um de livro; títulos-texto e capas-livros não erram leitor: são a única esperança de um grande raio de ação da brilhante Literatura, na maioria das vezes a guardada e secreta Literatura (...)".


Abaixo, uma rápida entrevista com Elaine Ramos, diretora de arte da Cosac Naify, sobre o projeto gráfico e capa desse livro.

Como você se tornou designer de livros?
Desde a FAU fui me encaminhando para o design mais do que para a arquitetura, logo que me formei vim trabalhar na Cosac Naify com o Fabio Miguez, para adaptar a Coleção Espaços da Arte Brasileira, que inicialmente era focada em artes plásticas, para arquitetura. Acabei ficando até hoje e acompanhando o processo de crescimento e profissionalização da editora.

O que você acredita que faz de uma capa de livro uma boa capa de livro?
Coerência com o texto e comunicação com o leitor. Estes são os ingredientes objetivos, mas tem também que ter uma inteligência visual, e não ser literal ou previsível (e isso não tem receita).


Como foi o processo criativo pra capa do livro? Como o o design do livro se relaciona com o conteúdo, por exemplo, o uso de boxes na divisão entre textos internos? Havia limitações impostas pelo briefing?
Quando li o livro, e em todas as discussões internas que tivemos sobre ele, as frases de Macedônio ficavam reverberando, são muito saborosas. Achei que elas seriam uma boa porta de entrada para o livro. Além disso o texto é muito metalinguístico e o fato de ele discorrer sobre as capas-livros, que são "a única esperança de um grande raio de ação da brilhante Literatura” era incontornável. Encher o livro de texto, sem deixar brancos, foi uma tradução gráfica da obsessão do texto e do autor. As molduras reforçam o caráter de acúmulo e compilação, uma estrutura que foge do livro tradicional.


Como foi o processo de produção gráfica desse livro, e o que determinou as escolhas (por exemplo, do papel da capa, de ser em capa dura).
Escolhi este papel porque achei que ele tinha um ar moderno (talvez pela cor intensa) e antigo ao mesmo tempo (talvez por ser rústico), mas sobretudo porque ele desbota e envelhece rápido. Quando as capas estiverem marcadas pelo uso e pelo tempo elas terão uma relação ainda mais interessante com o conteúdo do livro: uma obra feita ao longo de 48 anos e inacabada.
Este papel é muito frágil, não seria possível usá-lo numa brochura.
A irregularidade do corte foi o maior desafio do ponto de vista da produção gráfica, tivemos que resolver isso sem optar por um processo manual, que seria caríssimo. Os cadernos são de 12 páginas e a dobra foi projetada de maneira que, mesmo sem passar pelo refile trilateral, não ficassem páginas fechadas.

O que determinou a escolha das fontes?
São fontes funcionais, com um desenho contemporâneo, mas sem grandes idiossincrasias, o texto já tem o bastante desse ingrediente.

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